sexta-feira, 12 de novembro de 2010

5

E o que fazer quando a saudade aperta e as lembranças parecem estar ficando cada vez menos frescas em sua memória?
Eu tenho uma resposta, amigos. Mas não sei se é boa.
Nós contamos a história. Porque só assim, poderemos vivê-las novamente.
Não se pode mudar o passado e talvez o futuro seja destino. Talvez já tenha sido escrito ou talvez, não. Talvez valha a pena acreditar que o final pode ser feliz e da maneira que nós queremos que seja. Ou talvez isso seja apenas uma inútil forma de alimentar o que já não existe mais.

Estamos no dia em que ele disse que ia embora.
Aqui já não era mais um lugar agradável, segundo o dito cujo. E minha atitude não foi previsível. Em momentos melhores eu teria dito que ele devia ir. "Se mude, encontre seu lugar, seja feliz e me mande cartas."
Acontece que o que eu fiz foi um pouquinho desprezível. Eu chorei. Chorei até minhas lágrimas secarem e o obriguei vir a minha casa. 
Ele veio.

Eu estava no corredor, próximo ao quarto, quando o vi se aproximando. Meus olhos estavam vermelhos de pranto e me segurei para não chorar ali mesmo. Ele acenou como quem lia meus pensamentos.
Eu forcei um sorriso falso.
Entramos no quarto e teoricamente deveríamos conversar sobre o assunto, mas eu tentei escapar. Conclusão: não consegui. Ele sentou em minha cama e eu, apenas próxima, fui terrivelmente puxada para perto dele. O abracei forte e segurei minhas lágrimas ao máximo que pude. E ele, doce, apenas me acarinhou.
Neste dia não conversamos. Assumo total responsabilidade, pois sempre que ele começava a falar e tentar me explicar suas razões, eu chorava. Mais e mais. Sinto que o traumatizei.
Resolvemos esse pequeno inconveniente com beijos. Amassos. E uma enorme tensão sexual pairando no ar.
Só nos esquecemos de uma coisa: resolver o real problema.

E o que eu não sabia, era que o ir embora comentado, não era metafórico. Ele apenas queria se mudar. Hoje eu não sei o que ele quer, mas embora ele foi, uma metáfora. Foi embora desta vida de "chove, mas não molha".
E eu continuei nela. Vivendo de memórias.

sábado, 30 de outubro de 2010

Capítulo 4

- Uma pausa para uma opinião pessoal em tempo real -
Devaneios de amor sempre são deliciosos! Até quando você percebe que está furado. Narrar minha vida nunca foi tarefa fácil. Por mais que eu me esforce, sei que não captei os momentos com perfeição. Faltou a vivacidade. 
O tempo corre contra mim e o final feliz se afasta cada vez mais.
Sabe do engraçado?
Existem pessoas que ainda acreditam. Não, eu não sou uma delas. Quero dizer, eu não sei mais. Eu achava que não até hoje. Há um novo personagem nesta trama. Ainda não apresentei todos eles. A falta de cronologia dá nisso! Mas acredito que ninguém quer perder os detalhes intensos do recente por se focar no passado. 
O passado já foi.
O personagem é um grande cara! Whitey é o nome dele. Apelido. Ninguém pode se chamar Whitey. O apelido se dá devido a tamanha brancura de sua pele. Tão branca que chega a brilhar! (Mas nada de Edward Cullen aqui.)
Whitey é um exemplo de espectador (quase) passivo. Ele observa, tece comentários e não se mete. Todos os amigos deveriam ser assim. Em Outubro/2010 eu havia conversado com ele. Quer saber do que se deu a conversa?
- Whitey, eu e Jack sairemos sexta.
- Até que enfim!
- Vou levar um fora.
- Vai mesmo.
- Não é a hora em que você deveria mentir e dizer que não? Que ele vai dizer que me ama e seremos felizes para sempre, mesmo que ninguém acredite nisso? Só para me fazer feliz?
- Joey, você jamais terá isso de mim.

Era verdade. O que eu não sabia era a respeito do futuro. Do hoje e do agora.
Ele sempre foi solicito. Veio a minha casa me visitar. O tempo estava esquisito, fazia calor, frio, chovia, ventava e calor de novo. Teoricamente deveríamos assistir um filme, mas ficamos na conversa.
- E o seu coraçãozinho, como vai? - Ele perguntou do nada. Sem ter sombra de pretexto!
- Meu coraçãozinho está uma bela... bosta. A parte boa é que tive dias tão cheios de obrigações que não me deu tempo de pensar a respeito do fora, mas agora que tudo se acalmou, eu fico pensando. 
- Ok, então você pensa! - Ele me zoou. Aliás, é isso o que meus amigos fazem: me zoam. - Mas pensa com raiva, com tédio, com saudade...? - E retomou o objetivo da conversa.
- Não sinto raiva, estou chateada e com saudade. O problema é que ele adora sumir. Isso me preocupa.
- Será que você o ama?
- Quer sinceridade? Sempre que nos reaproximamos eu sinto isso. A sensação que eu tenho é que passei a minha vida toda apaixonada por ele! E não acaba bem... Nunca.
- Eu sempre soube disso! - Ele exaltou com um sorriso gigante no rosto.
- Você não pode ter percebido isso antes de mim.
- Eu sempre soube que você curtia ele assim!
- Explique-se.
- Depois que eu o conheci, eu pensava. Juntava as coisas que você falava dele e as coisas que ele falava de você. E chegava a conclusão: Eles se querem. - E riu.
- Pelo menos eu não sou a única a achar que ele me quer. Quero dizer, enquanto ele continuar me dando fora e me agarrando depois, eu continuarei mantendo meus pensamentos assim.
- É a verdade.
- E ele nunca vai admitir isso. - Triste, eu sei.
- Você está maluca? Ele já disse que gosta de você, o cara falou com todas as letras!
- E me deu um fora!
- Sua burra! Vocês mulheres do século XXI! - Ele começou a rir muito, muito, muito alto. - Isso não apaga o fato de que se ele não ficou com você pelos motivos que apresentou, só quer dizer que ele gosta muito de você. 
- Ele disse para o Andrew que só me vê como amiga!
- Joey, Joey, Joey... Ele gosta de você, sim.
- Então por que ele vive me dando foras?
- Porque ele é inseguro. E ele tem uma vida, tem que fazer uma faculdade, trabalhar... 
- E todo mundo! Isso nunca foi um empecilho.
- Ele não tem tempo para ficar direito com você.
- Ele já teve mulheres e obrigações antes, porra!
- E você está supondo que ele dava a mesma atenção para elas que ele daria para você?
- Você acha que ele me daria mais?
- Porra, a explicação dele está ligada a isso!
- Então por que ele diz ao Andrew, de forma bem objetiva, de que só me vê como amiga?
- Vergonha. Joey, ele é virgem! Respeite isso. Preciso falar mais?
- Ok, faz sentido.
- É claro que faz.
- Agora me explique o fato dele nunca me procurar.
- Ele quer focar na vida dele. 
- Você acha que, talvez, algum dia, isso pare de ser algo torturante?
- Mais para frente, sim. Não antes dele retomar a faculdade e se ver como um acadêmico. É isso o que eu acho.

Alguma coisa disso faz algum sentido?
Eu espero que faça.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Capítulo 3

Outubro/ 2010
Algumas pessoas diferenciam amor e amizade. Minha distinção de ambas as palavras não costuma ser semelhante a dos demais pensantes.
Existe amizade sem amor? Desconheço. Existe amor sem amizade? Desconheço também.
Acredito que ambos os sentimentos se complementem. E é por isso que eu acredito – sim, ainda acredito – que isso poderia ter dado certo.
                Mas Joeys são sempre Joeys, não é mesmo? Apenas Joeys. Sem chance de ser a oficial. Apenas uma substituta.
                Era uma sexta, em torno de uma da tarde, quando saímos para conversar. Fomos a uma pracinha amigável e fazia bastante calor. Meu sangue fervia por dentro e por fora.
                Medo.
                Esta é a palavra que descrevia perfeitamente meus sentimentos.
                - Hey.
                - Hey.
                Eu segurava um livro que não estava lendo. Era apenas um disfarce insatisfatório. Com isso eu só queria dizer: “Vim lendo, não pensando nessa conversa”.
                Ele pegou meu livro.
                - É bom?
                - Estou no começo, mas é ótimo. – E o peguei de volta. – Está calor, vamos sentar?
                Sentamos. Um do lado do outro. Eu apertava meu pobre livro e ele esticava seu braço sobre o banco, bem próximo ao meu ombro.
                Duas horas.
                Levou DUAS horas para a conversa fatídica ter início. Durante essas DUAS horas nos abraçamos. Conversamos coisas variadas. Recebi todo o seu carinho. Afeto. Amor?
                - Que olhar é esse? – Ele me perguntou.
                - Fico feliz por você. É orgulho. – Eu disse. Ele estava contando sobre as mudanças positivas que estava pensando em fazer.
                - Você seria capaz de ficar feliz mesmo que minhas decisões não sejam necessariamente satisfatórias para você?
                Eu senti toda a cautela para formulação dessa pergunta.
                Eu sorri.
                - Sim. – Respondi.
                - Porque eu acho que não devemos continuar fazendo isso.
                - Posso perguntar por quê?
                - Porque eu gosto mais de você do que de ficar com você.
                - Isso deveria fazer algum sentido para mim?
                - O que eu quero dizer é que eu gosto de você, gosto de ficar com você e estaria mentindo se dissesse que não quero ficar com você nesse minuto. Mas, por gostar mais de você do que de ficar com você, acho que devemos parar por aqui.
                - Eu não entendo.
                - Por quê?
                - Porque no meu mundo, quando duas pessoas querem ficar uma com a outra, elas simplesmente ficam.
                - No meu, não.
                - Percebi.
                Ele me abraçou.
                - Esse foi o fora mais sem coerência que eu já levei.
                Ele não pronunciou uma palavra.
                ...
                Doeu. Doeu muito quando ele disse que precisava ir e eu deixei.
                Ele foi.
                Eu chorei três lágrimas e disse para ele voltar. Ele voltou. Eu queria gritar, chorar, xingá-lo de todos os nomes possíveis, mas me contentei em dizer palavras soltas que não faziam o menor sentido.
                - Joey, eu não sou a melhor pessoa no momento para consolar você.
                - Eu sei. Queria que Andrew estivesse aqui. – Não agüentei. Chorei compulsivamente por três minutos e parei.
                - Eu não sou o Andrew.
                - Eu sei, essa é a pior parte!
                A gente se abraçou. Eu fiquei em silêncio, em seus braços enquanto o sentia olhar para outra direção, para cima. Pro céu.
                - Divide seus pensamentos.
                - As pessoas dão valor demais as coisas pequenas e o universo é muito grande.
                Ri. Sério mesmo que ele me dá um fora, eu fico triste e ele pensa no universo? Voltei ao meu silêncio por alguns instantes.
                - Você é uma boa pessoa, ok? – Foi o que eu disse. Ele me afastou e me olhou com aquela expressão de quem não entende. – Você sempre fala de mudar, de melhorar, mas não se dá conta do quanto você já é bom. Se concentra nos problemas periféricos e não percebe que o que te falta é auto-estima.
                - É uma boa observação para ser feita a meu respeito.
                - Você sente vontade de ser outra pessoa?
                - Sim.
                - Se eu pudesse ser outro alguém, eu gostaria de ser você.
                Ele sorriu. Me abraçou.
                - É admirável você me dizer isso.
               
                E nos fomos embora. Até o ponto de ônibus, onde eu passaria meus momentos depressivos sozinha.
                Foi quando aconteceu. Aconteceu a coisa completamente incoerente, sem noção e mais estúpida de minha vida. Ele me puxou para perto, perto demais! Me puxou pela cintura. Eu envolvi seu pescoço com meus braços. Nos olhamos como quem flertava.
                E mais nada. Nada!
                Eu gostaria de ter feito alguma coisa naquele momento. Gostaria de ter dado um beijo de adeus, pelo menos. Ou de ter dito algo como: “Você me deu um fora, não pode me puxar pela cintura agora!”
                Mas, não. Eu deixei. O momento se foi. Se perdeu. Até quando, eu não sei. 

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Capítulo 2

- Um salto há poucos meses –

Era Agosto de 2010. E aqui se dá o início da falta de cronologia. A primeira das três despedidas de Andrew acontecera há poucas horas. Estávamos no metrô dando aquele abraço apertado!
As horas voaram neste dia. Os ponteiros do relógio já marcavam quase 00h e não ficaria bem para uma menina voltar sozinha para casa.
- Me leva? – Perguntei.
- Claro. – Ele respondeu.
Passamos o dia todo flertando e fingindo que não percebíamos. Fazia parte de o nosso costume negar o óbvio. Ou talvez não seja tão óbvio porque só eu reparo.
Andamos de mãos dadas – o que sempre faço – até a entrada do meu prédio. Ele se sentou na portaria e eu fiquei de pé.
- Valeu! – Agradeci por ter sido trazida em casa e o abracei.
Ele abraçou de volta.
E vocês conhecem os diferentes tipos de abraço. O do momento narrado era mais para o tipo: “Ei, fica mais uns minutinhos aqui”.
- Vou sentir falta dele.
- Andrew?
- Sim.  Ele é um amor de pessoa.
- De fato é.
- Gosto mais dele do que de você. – Provoquei.
- Você sabe que é mentira. – Provocou de volta.
- Você é pouco modesto.
- Você não negou.
- Conheço você há mais tempo, o que eu posso fazer? Sem falar que em termos de implicância, nós dois fazemos uma boa dupla.
- Também acho. Afinal, você é muito chata.
- Também te amo.
Ele levantou. Eu o observei em silêncio. Passou pela minha cabeça perguntas como “Não acha um bom momento você declarar que gosta de mim, mesmo que como amigo?”
Mas ele não comentou esse assunto. Apenas veio andando em minha direção e me colocando contra parede, mantendo seu braço direito apoiado na mesma. Eu já não me agüentava mais! Mas pelo grau de implicância que cultuamos um pelo outro, não podia deixar barato. Ele continuou falando sobre coisas que não prestei atenção, mas o deixei aproveitar seu momento. Fiquei alguns instantes ali, olhando para cima – devido a diferença gritante de altura – e saí. Eu juro que queria ter palavras para descrever a cara de decepção dele depois de minha atitude. Entretanto, para entender bem os fatos, precisará situar isso como uma guerra. Uma guerra de egos, uma guerra de orgulho e uma guerra para não admitir a verdade.
Sentei.
Ele sentou do lado.
Homens sabem ser tão idiotas...
Contornou minha cintura com seu braço e eu levantei. Mesma cara de decepção. Por dentro, eu gritava e ria ao mesmo tempo. Ria pela expressão dele e gritava de nervoso e de medo difusos. É sempre arriscado quando isso começa. A sensação de paixão aguda pela segunda vez pela mesma pessoa e por saber que já deu errado antes. Acontece que meus instantes silenciosos ocuparam tempo demais sem uma ação. Quando dei por mim, ele já estava aqui, próximo demais, beijando meu pescoço. Não dava mais pra fugir. Eu ignorei todas as luzes vermelhas que piscavam em sinal de perigo e fiz o que meu instinto natural mandava. Beijei.
Não levou muito tempo para as luzes piscantes me acordarem dos sonhos. Saí de perto.
- O que foi isso?
- Um beijo. Eu acho.
- Acha? – Não deu pra não rir.
- Ok. Foi um beijo.
- O que isso quer dizer?
- Que sentimos atração um pelo outro.
Boa, garoto! É exatamente isso o que qualquer mulher gostaria de ouvir. Mas, sem problemas. Eu não estava apaixonada. Ainda.
- Eu sei o que acontece depois disso. Como você pôde fazer isso comigo? – Quando eu fico nervosa, falo sem parar. Ando de um lado para o outro e pareço completamente louca. E assim eu fazia.
- Eu não fui o único que beijou aqui! – Ele ficara indignado.
- Eu sou o lado fraco, você sabe disso. Sem falar que da última vez que nos beijamos, você me ignorou por uma semana!
- Eu tinha uns 15 anos! Não sou mais a mesma pessoa e não vou te ignorar, se é disso que você tem medo.
- Você está sempre procurando um modo de torturar meu pobre coraçãozinho!
- Você é dramática.
- É verdade. Mas os meus estudos apontam que se você não tem drama, você cria drama. Pois drama faz da sua vida mais feliz, ninguém quer o monótono.
- Faz sentido.
- Então!
- Então pare de criar drama sem necessidade.
- Sua sensibilidade me anima!
- Por que estamos discutindo isso? A gente não pode simplesmente ficar?
- Não! Porque eu posso me apaixonar e você sabe que isso vai dar uma merda sem tamanho.
- Isso não vai acontecer.
- Como pode ter tanta certeza?
- Você me conhece e é uma pessoa diferente também. Não vai avançar a linha que você mesma marca como perigosa. E eu não permitirei que isso aconteça também.
- Mas você sabe que tem todos os atributos que eu prezo num homem. – Isso significa que ele é perfeito para mim. Inteligente, amigável, implicante, divertido e bem humorado. Fora outras particularidades de sua personalidade confusa.
- E você tem o que quero em uma mulher.
- Tenho?
- Claro que tem.
- Vou aceitar como um elogio.
- Foi um elogio.
- Sua ex-namorada não é a imagem de um elogio para mim.
Ele riu.
- Agora ela pode te detestar com um motivo.
- Devemos passar em frente a casa dela nos beijando e gritar o nome dela na portaria? – Brinquei.
- Eu disse que ela em motivo para te detestar agora, por que não se contenta com isso? Precisamos lutar por um homicídio?
- Tem razão. Eu não quero morrer ainda.
Continuamos conversando por um bom tempo sem nos tocar. Mas claramente isso seria inevitável. A última coisa que me lembro é de estarmos na garagem, onde não havia uma viva alma sequer. Definitivamente não estávamos conversando, estava mais para uns beijos bastante intensos.
Permanecemos lá por umas duas horas.
Isso não é romântico?
Por favor, respondam que não.

sábado, 16 de outubro de 2010

Capítulo 1

Não se assuste com a falta de cronologia. É proposital. Eu não quero perder as lembranças frescas focando-me no verdadeiro começo.
O importante agora, no entanto, é deixar claro alguns personagens desta trama. Começando por ele e uma breve descrição de nosso perturbado relacionamento indefinido.
Nos conhecemos há seis anos e eu não vou dizer que me apaixonei, pois além do clichê barato, seria mentira. Foi numa viagem do colégio. Nunca tínhamos nos visto antes, pois éramos de turmas diferentes. Quero dizer, eu nunca tinha reparado sua presença, ele pode ter notado a minha. Acho que nunca saberemos. São relatos unilaterais para a minha infelicidade.
A aproximação se deu por minha falta de bom senso e timidez. Ele estava com alguns amigos conversando sobre música. Aliás, música é sempre um bom assunto para iniciar qualquer tipo de diálogo. Por sorte, nossos gostos eram semelhantes. Não deu para evitar puxar uma conversa.
Ele não tinha nenhum atrativo. Não mesmo. Não era bonito o suficiente, nem simpático o suficiente, nem interessante o suficiente. Mas parecia uma boa pessoa e um bom amigo. Se bem que aos 14 anos e chegando num lugar completamente novo, qualquer bípede parece um amigo em potencial.
Gostamos um do outro. Ok, talvez gostar seja um termo errado. O que descreve melhor a situação é a palavra simpatizar. Isso. Simpatizamos um com o outro.
Com o passar do tempo, descobri nele uma criatura maravilhosa e com uma inteligência invejável. Sua mente sempre foi uma incógnita para mim e para todos. Ninguém consegue entender muito bem tudo o que se passa dentro daquela cabeça, mas ele sempre pontuou que sou uma das pessoas que consegue “lê-lo” com certa habilidade. Mérito pra mim. Graças a isso que hoje levanto hipóteses e tenho alguma esperança de que estejam corretas.
                Desde este fatídico dia nos tornamos bons amigos. Depois, melhores amigos. Em seguida, brigamos. A briga ocupou pelo menos três anos de relação, tendo altos e baixos. Nos “altos” era quando costumávamos ter uma relação mais íntima. Amantes. Mas nunca passou disso. Nunca passou de alguns momentos em alguns dias, seguidos imediatamente por um “baixo” terrível repleto de discussões intermináveis e muitas vezes sem motivo. Então vieram os turbulentos dias do afastamento total, onde simplesmente não nos falávamos. Nem nos conhecíamos mais. O retorno da amizade ocorreu muito tempo depois. O problema dessa fase eram os sentimentos misturados. Sempre vivemos numa tensão sexual inexplicável e tudo veio à tona, quando nossos lábios se encontraram mais uma vez, depois de tantos anos. E desejamos isso. Com certeza desejamos. Tivemos esse deja vu de sensação por mais alguns breves dias e tudo ficou nebuloso. Indefinido. E eu continuo sem saber o que vem depois.
                A única certeza restante é que no meio de tanto drama e confusão existem sentimentos reais. Vívidos. Fortes e intensos. Pelo menos em mim. E não vão parar tão facilmente.
Este é o cara. Jack.

- Uma pausa para a realidade –

Nessa altura do jogo, acredito que já tenha sido montado um Hater Club para ele. Explico depois, mas a culpa é minha. Defino muito mal quem ele realmente é e dramatizo demais publicamente, mas nunca conto para ele a exatidão de tudo o que sinto. Confesso.

- Voltando para a nossa apresentação –

Mandy é minha melhor amiga em todo mundo. Eu estaria completamente perdida se não fosse por ela e seu inabalável bom humor. Sinceramente? Nem sempre tem os conselhos mais úteis do mundo, mas se você precisa de alguém para pôr tudo para fora, desabafar de uma vez por todas, é ela quem deve ser procurada. Exerce essa função como ninguém! E eu a amo.

Andrew é, talvez, meu segundo melhor amigo. O bom de tê-lo em sua vida é que ele é alguém que te faz crer que tudo dará certo mesmo quando ele diz:
- Fudeu. Não dá mais.
Eu não vou saber explicar o motivo disso, mas é uma sensação muito confortante. Dá um alívio. E seu abraço é o mais incrível do mundo. Gostaria de poder abraçá-lo neste momento e pedir por palavras de conforto. Qualquer palavra, vindo dele, sugere conforto. Mas ele foi embora para um intercâmbio de seis meses. Acreditem em mim, seis meses nunca pareceram tão intermináveis.

Junny é nossa amiga em comum. Minha e de Jack. Essa tenho certeza que sofre dos dois lados. Eu reclamo com ela sempre. Tudo. Fofoco mesmo! Ele eu não sei. Digo, sei. Ela me conta que as vezes Jack conta algumas coisas para ela, mas, como é politicamente correta, nunca define se é positivo, negativo ou simplesmente indiferente. Faz o mesmo comigo, não conta para ele. De vez em quando quero matá-la por isso, mas, de alguma forma, concordo com a atitude dela.

Por último, Joey. Esta sou eu. A amiga, sempre a amiga. As vezes não me sinto boa o bastante para consegui-lo. Na verdade, sei que isso tem nome: síndrome da amizade. Joeys são normais, amigáveis, divertidas, proporcionam excelentes momentos para Jacks, sejam românticos ou não. Mas, no fim, eles escolhem as loiras gostosas: as Jens. Não necessariamente loiras, nem gostosas, mas aquelas que não foram invalidadas por serem amigas.
Um conselho? Tome cuidado ao se tornar amiga. Mas preste atenção no que tenho a dizer, minha lógica é bem fundamentada. Como toda boa Joey, eu me apaixono pelo melhor amigo e em raros momentos, consigo tê-lo. Isso não é de todo mal. Se você não for se apaixonar por aquele em quem confia completamente, que estará lá por você e que com certeza não é uma espécie de maníaco sexual, por quem vamos nos apaixonar? Por um cara desconhecido que pode pisar e esmigalhar nossos frágeis corações jovens? Não vejo sentido. Talvez vocês consigam me explicar isso, mas comigo não rola.
Sempre será o melhor amigo. Meu carma! Ainda aprenderei a lidar com isso.

- Uma última nota de narração extra –

Não importa o quanto você, Joey, deteste uma Jen. Ela sempre te detestará mais. A diferença é que como toda Joey, você tem um motivo. Jens não. Mas, no final, você descobrirá que as Jens estavam com a razão, você que era incapaz de enxergar.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Prólogo

É sempre uma agonia começar alguma coisa. Qualquer coisa. Quanto mais uma história complexa e repleta de detalhes.
           Talvez o coerente fosse começar do início, mas perderia boa parte da graça porque não teria o calor do momento. E não há nada neste mundo melhor do que uma boa dose de drama! Mesmo que seja logo de cara. Afinal, é preciso pontuar onde estamos embarcando e em que tipo de solo estamos pisando.
     Qualquer outra garota que já vivenciou a maior parte da juventude conhece bem o assunto que trataremos aqui.
        Eu me apaixonei. Duas vezes. E pelo mesmo cara. 
        Isso soa e é ridículo.
       Foram em épocas diferentes e se há algo em comum entre elas é o fato de que não tiveram finais tão felizes. Quero dizer, da primeira vez definitivamente foi um desastre. Já da segunda, tudo caminha para o mesmo trágico destino... Ou será que tudo pode ser mudado a ponto do happy ending acontecer realmente?
Estas perguntas ainda não foram respondidas e, talvez, nunca serão. Ou talvez eu dê certa sorte e consiga arrancar do interior dele tudo o que ainda não faz sentido.