segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Capítulo 2

- Um salto há poucos meses –

Era Agosto de 2010. E aqui se dá o início da falta de cronologia. A primeira das três despedidas de Andrew acontecera há poucas horas. Estávamos no metrô dando aquele abraço apertado!
As horas voaram neste dia. Os ponteiros do relógio já marcavam quase 00h e não ficaria bem para uma menina voltar sozinha para casa.
- Me leva? – Perguntei.
- Claro. – Ele respondeu.
Passamos o dia todo flertando e fingindo que não percebíamos. Fazia parte de o nosso costume negar o óbvio. Ou talvez não seja tão óbvio porque só eu reparo.
Andamos de mãos dadas – o que sempre faço – até a entrada do meu prédio. Ele se sentou na portaria e eu fiquei de pé.
- Valeu! – Agradeci por ter sido trazida em casa e o abracei.
Ele abraçou de volta.
E vocês conhecem os diferentes tipos de abraço. O do momento narrado era mais para o tipo: “Ei, fica mais uns minutinhos aqui”.
- Vou sentir falta dele.
- Andrew?
- Sim.  Ele é um amor de pessoa.
- De fato é.
- Gosto mais dele do que de você. – Provoquei.
- Você sabe que é mentira. – Provocou de volta.
- Você é pouco modesto.
- Você não negou.
- Conheço você há mais tempo, o que eu posso fazer? Sem falar que em termos de implicância, nós dois fazemos uma boa dupla.
- Também acho. Afinal, você é muito chata.
- Também te amo.
Ele levantou. Eu o observei em silêncio. Passou pela minha cabeça perguntas como “Não acha um bom momento você declarar que gosta de mim, mesmo que como amigo?”
Mas ele não comentou esse assunto. Apenas veio andando em minha direção e me colocando contra parede, mantendo seu braço direito apoiado na mesma. Eu já não me agüentava mais! Mas pelo grau de implicância que cultuamos um pelo outro, não podia deixar barato. Ele continuou falando sobre coisas que não prestei atenção, mas o deixei aproveitar seu momento. Fiquei alguns instantes ali, olhando para cima – devido a diferença gritante de altura – e saí. Eu juro que queria ter palavras para descrever a cara de decepção dele depois de minha atitude. Entretanto, para entender bem os fatos, precisará situar isso como uma guerra. Uma guerra de egos, uma guerra de orgulho e uma guerra para não admitir a verdade.
Sentei.
Ele sentou do lado.
Homens sabem ser tão idiotas...
Contornou minha cintura com seu braço e eu levantei. Mesma cara de decepção. Por dentro, eu gritava e ria ao mesmo tempo. Ria pela expressão dele e gritava de nervoso e de medo difusos. É sempre arriscado quando isso começa. A sensação de paixão aguda pela segunda vez pela mesma pessoa e por saber que já deu errado antes. Acontece que meus instantes silenciosos ocuparam tempo demais sem uma ação. Quando dei por mim, ele já estava aqui, próximo demais, beijando meu pescoço. Não dava mais pra fugir. Eu ignorei todas as luzes vermelhas que piscavam em sinal de perigo e fiz o que meu instinto natural mandava. Beijei.
Não levou muito tempo para as luzes piscantes me acordarem dos sonhos. Saí de perto.
- O que foi isso?
- Um beijo. Eu acho.
- Acha? – Não deu pra não rir.
- Ok. Foi um beijo.
- O que isso quer dizer?
- Que sentimos atração um pelo outro.
Boa, garoto! É exatamente isso o que qualquer mulher gostaria de ouvir. Mas, sem problemas. Eu não estava apaixonada. Ainda.
- Eu sei o que acontece depois disso. Como você pôde fazer isso comigo? – Quando eu fico nervosa, falo sem parar. Ando de um lado para o outro e pareço completamente louca. E assim eu fazia.
- Eu não fui o único que beijou aqui! – Ele ficara indignado.
- Eu sou o lado fraco, você sabe disso. Sem falar que da última vez que nos beijamos, você me ignorou por uma semana!
- Eu tinha uns 15 anos! Não sou mais a mesma pessoa e não vou te ignorar, se é disso que você tem medo.
- Você está sempre procurando um modo de torturar meu pobre coraçãozinho!
- Você é dramática.
- É verdade. Mas os meus estudos apontam que se você não tem drama, você cria drama. Pois drama faz da sua vida mais feliz, ninguém quer o monótono.
- Faz sentido.
- Então!
- Então pare de criar drama sem necessidade.
- Sua sensibilidade me anima!
- Por que estamos discutindo isso? A gente não pode simplesmente ficar?
- Não! Porque eu posso me apaixonar e você sabe que isso vai dar uma merda sem tamanho.
- Isso não vai acontecer.
- Como pode ter tanta certeza?
- Você me conhece e é uma pessoa diferente também. Não vai avançar a linha que você mesma marca como perigosa. E eu não permitirei que isso aconteça também.
- Mas você sabe que tem todos os atributos que eu prezo num homem. – Isso significa que ele é perfeito para mim. Inteligente, amigável, implicante, divertido e bem humorado. Fora outras particularidades de sua personalidade confusa.
- E você tem o que quero em uma mulher.
- Tenho?
- Claro que tem.
- Vou aceitar como um elogio.
- Foi um elogio.
- Sua ex-namorada não é a imagem de um elogio para mim.
Ele riu.
- Agora ela pode te detestar com um motivo.
- Devemos passar em frente a casa dela nos beijando e gritar o nome dela na portaria? – Brinquei.
- Eu disse que ela em motivo para te detestar agora, por que não se contenta com isso? Precisamos lutar por um homicídio?
- Tem razão. Eu não quero morrer ainda.
Continuamos conversando por um bom tempo sem nos tocar. Mas claramente isso seria inevitável. A última coisa que me lembro é de estarmos na garagem, onde não havia uma viva alma sequer. Definitivamente não estávamos conversando, estava mais para uns beijos bastante intensos.
Permanecemos lá por umas duas horas.
Isso não é romântico?
Por favor, respondam que não.

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